1973: as Cores do Brasil na Tela da Tv!

Mesmo o Brasil tendo oficialmente iniciado suas transmissões coloridas em 19 de fevereiro de 1972, a primeira novela em cores só chegou às televisões em janeiro de 1973.
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Com poucos programas sendo transmitidos pelo novo sistema e ainda longe de ser um eletrodoméstico de custo popular, qualquer transmissão colorida transformava-se num evento especial no país. Grupos de parentes, amigos e até vizinhos reuniam-se para assistir à aquela grande novidade, descobrindo como eram, na realidade, as cores dos seriados internacionais ou dos trajes dos apresentadores de telejornais.

Claro que uma das paixões nacionais, a telenovela, não demoraria a entrar nesta nova onda de modernismo. E foi assim que a brasileiríssima novela O Bem-Amado, do aclamado autor Dias Gomes (baseada em sua peça teatral Odorico, o Bem Amado), foi pioneira ao trazer as cores para o horário das 22 horas da Rede Globo, em janeiro de 1973. De quebra, o texto ainda fazia uma crítica inteligente e muito bem humorada ao regime militar vigente.

A produção foi dirigida por Régis Cardoso, com supervisão de Daniel Filho, e contava com um elenco espetacular: Jardel Filho (Dr. Juarez Leão), Sandra Brea (Telma), Emiliano Queiroz (Dirceu Borboleta), Zilka Salaberry (Donana Medrado), Carlos Eduardo Dolabella (Neco Pedreira), Milton Gonçalves (Zelão das Asas), Ruth de Souza (Chiquinha do Parto), Rogério Fróes (Padre Honório) Gracindo Junior (Jairo Portela) Maria Claudia (Gisa), Lutero Luiz (Lulu Gouveia), João Paulo Adour Cecéu) e João Carlos Barroso (Eustórgio), entre outros.

Destaques especiais ficaram por conta das atrizes Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio (como as Irmãs Cajazeira) e de uma atuação brilhante de Lima Duarte, como o terrível Zeca Diabo.

Mas o protagonista absoluto da novela veio na figura de um anti-herói ardiloso, cativante e inesquecível: Odorico Paraguassu, interpretado magistralmente pelo grande e saudoso Paulo Gracindo. Na trama, Odorico é um prefeito demagogo e corrupto, que comanda a pequena cidade de Sucupira, no interior baiano. Eleito com o slogan “Vote em homem sério e ganhe um cemitério”, teve enormes dificuldades para manter a promessa da campanha, já que ninguém morria na cidade.

Mas as dificuldades encontradas pela equipe de O Bem-Amado foram enormes. Tudo era novidade no processo de gravação e transmissão em cores. Até que houvesse adaptação aos equipamentos e à nova linguagem, as cenas precisaram ser repetidas várias vezes. Uma explosão de cores invadiu as televisões brasileiras. Quase tudo brilhava ou saturava no vídeo. Os óculos dos personagens causavam reflexo, as cores fortes dos figurinos e até as pernas brancas da atriz Ida Gomes precisaram ser maquiadas para que não houvesse distorção nas imagens. O investimento para aquele novo modelo de produção foi alto, mas foi também o que distanciou a Globo das outras emissoras da época.

Apesar das dificuldades técnicas, as imagens coloridas também trouxeram um grande fascínio estético para a novela. Os cenários de O Bem-Amado alternavam cores fortes com tons mais suaves, assim como os figurinos dos atores. O visual dos personagens era extravagante e colorido, para valorizar o fato de o público estar vendo as cores pela primeira vez. Apenas os personagens do núcleo mais sério da trama usavam peças simples e em tons pastéis.

Sucesso absoluto de audiência e crítica especializada, foi também a primeira novela da Globo a ser exportada, abrindo o mercado estrangeiro para os produtos nacionais. Em março de 1976, foi ao ar pela TV Monte Carlo, de Montevidéu, o primeiro capítulo de “El Bien Amado”. Depois, a novela foi exportada para 30 países, entre eles, os Estados Unidos. Em 1977, toda a América Latina, com exceção da Venezuela, assistia a O Bem-Amado, que também teve seus direitos de exibição vendidos para Portugal.

Outro ponto a se destacar na produção foi ter uma trilha sonora original toda composta por Toquinho e um dos mestres da poesia moderna brasileira Vinícius de Moraes.

Assista aqui um vídeo com o tema de abertura da produção original de 1973:

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