Me pediram pra fazer uma coisa muito difícil esta semana. Escrever um texto rápido para ser lido na cerimônia de cremação da grande atriz, autora e diretora Jandira Martini.
Ela gostava muito, nestes últimos anos, de umas mini-crônicas que eu escrevia.
Só por isso tomei coragem. E com a benção do seu parceiro constante Marcos Caruso, abri meu coração.
Dedico este texto a todos os amigos que, como eu, também irão sentir longas e bonitas saudades.
Jandira Martini e Mauricio Guilherme Jr. em O Eclipse (2008). Texto da própria Jandira com direção do também saudoso e querido Jô Soares.
Independente do que cada um acredita ou onde deposita sua fé, é inegável constatar que a essência de alguém deixa seu corpo no momento exato do seu último suspiro na terra.
E quando a essência tem a grandiosidade, a inteligência, o talento e o humor desta nossa tão querida amiga, esta forma de existir toma conta do ar, da cidade, do mundo, do tempo e da vida.
Jandira está agora em toda parte, dentro e ao redor de nós.
E vai continuar nas nossas estradas, nos nossos palcos, nas nossas plateias, nas nossas estreias, nos nossos sorrisos, nas nossas lágrimas, talvez até, nas nossas escolhas.
Deixa de ser uma pessoa, sua representação de carne e osso.
E passa a ser o que ela realmente é.
Uma inspiração, uma intuição, uma linda lembrança, uma figura em art-nouveau, um foco de luz numa cena vazia, uma taça de vinho, uma ária de ópera, uma ventania, um amanhecer, uma noite clara…
Nas mais bonitas visões, nas melhores sensações…
Sempre onde existir a beleza e a arte do espontâneo, lá estará ela.
Uma presença constante, quase palpável, sensível e invisível a um só tempo.
Ter conhecido, convivido, compreendido e contemplado a grandeza da sua presença teve a raridade e o encantamento de um cometa de rastro luminoso, testemunhado apenas por olhos afortunados, os nossos.
De hoje em diante, também passa a ter a condição dos voos mais extraordinários e ousados que um artista poderia imaginar.
Ela tem agora a possibilidade do impossível!
Pode sonhar, enfim, por ela e por todos nós que a conhecemos.
Por isso, já te agradecemos, minha amiga.
Pelos lindos sonhos que se foram e pelos muitos sonhos que ainda virão de você.
Obrigado mesmo, por tanto e por tudo.
E nós, que seremos eternamente a sua plateia, te aplaudiremos pra sempre.
Brava, Jandira!!!
Bravíssima!!!!